A Revista Crusóe e O Antagonista foram censurados nesta segunda-feira (15) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em defesa da liberdade de expressão, publicamos na íntegra a matéria que o STF não quer que você leia:

“O amigo do amigo de meu pai”

Por Rodrigo Rangel e Mateus Coutinho

NA ÚLTIMA TERÇA-FEIRA, um documento explosivo enviado pelo empreiteiro-delator Marcelo Odebrecht foi juntado a um dos processos da Lava Jato que tramitam na Justiça Federal de Curitiba. As nove páginas trazem esclarecimentos que a Polícia Federal havia pedido a ele, a partir de uma série de mensagens eletrônicas entregues no curso de sua delação premiada.

No primeiro item, Marcelo Odebrecht responde a uma indagação da Polícia Federal acerca de codinomes que aparecem em emails cujo teor ainda hoje é objeto de investigação. A primeira dessas mensagens foi enviada pelo empreiteiro em 13 de julho de 2007 a dois altos executivos da Odebrecht, Irineu Berardi Meireles e Adriano Sá de Seixas Maia. O texto, como os de centenas de outras e-mails que os executivos da empreiteira trocavam no auge do esquema descoberto pela Lava Jato, tinha uma dose de mistério.

Marcelo Odebrecht pergunta aos dois: “Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo do meu pai?”. É Adriano Maia quem responde, pouco mais de duas horas depois: “Em curso”. A conversa foi incluída no rol de esclarecimentos solicitados a Marcelo Odebrecht. Eles queriam saber, entre outras coisas, quem é o tal ”amigo do amigo do meu pai”. E pediram que Marcelo explicasse, “com o detalhamento possível”, os “assuntos lícitos e ilícitos tratados, assim como identificação de eventuais codinomes”.

A resposta do empreiteiro, que após passar uma longa temporada na prisão em Curitiba agora cumpre o restante da pena em regime domiciliar, foi surpreendente. Escreveu Marcelo Odebrecht no documento enviado esta semana à Lava Jato: “(A mensagem) Refere-se a tratativas que Adriano Maia tinha com a AGU sobre temas envolvendo as hidrelétricas do Rio Madeira. ‘Amigo do amigo de meu pai’ se refere a José Antonio Dias Toffoli”. AGU é a Advocacia-Geral da União. Dias Toffoli era o advogado-geral em 2007.

O empreiteiro prossegue, acrescentando que mais detalhes do caso podem ser fornecidos à Lava Jato pelo próprio Adriano Maia. “A natureza e o conteúdo dessas tratativas, porém, só podem ser devidamente esclarecidos por Adriano Maia, que as conduziu”, afirmou no documento, obtido por Crusoé.

Adriano Maia se desligou da Odebrecht em 2018, depois do turbilhão que engoliu a empreiteira. Ex-diretor jurídico da construtora, seu nome já havia aparecido nos depoimentos da delação premiada de Marcelo Odebrecht. Ele é citado como conhecedor dos negócios ilícitos da empresa. O empreiteiro diz que Adriano Maia sabia, por exemplo, do pagamento de propinas para aprovar em Brasília medidas provisórias de interesse da Odebrecht. Ele menciona, entre os casos, a MP que resultou no chamado “Refis da Crise” e permitiu a renegociação de dívidas bilionárias após acertos pouco ortodoxos com os ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci.

Adriano Maia também aparece em outras trocas de mensagens com Marcelo Odebrecht que já constavam nos inquéritos da Lava Jato. Em uma delas, também de 2007, Odebrecht o orienta a estreitar relações com Dias Toffoli na Advocacia-Geral da União. Àquela altura, a Odebrecht tinha interesse, juntamente com outras construtoras parceiras, em vencer a licitação para construção e operação da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira. Na AGU, Toffoli havia montado uma força-tarefa com mais de uma centena de funcionários para responder, na Justiça, às ações que envolviam o leilão.

Havia um esforço grande do governo para dar partida às obras. O leilão para a construção da usina de Santo Antônio foi realizado em dezembro de 2007, cinco meses após a mensagem em que Marcelo Odebrecht pergunta aos dois subordinados se eles “fecharam com o amigo do amigo de meu pai”. A disputa foi vencida pelo consórcio formado por Odebrecht, Furnas, Andrade Gutierrez e Cemig. A Lava Jato trabalha para destrinchar o que há por trás dos e-mails – e dos codinomes que, agora, a partir dos esclarecimentos de Marcelo Odebrecht, são conhecidos.

A menção a Dias Toffoli despertou, obviamente, a atenção dos investigadores de Curitiba. Uma cópia do material foi remetida à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que ela avalie se é o caso ou não de abrir uma frente de investigação sobre o ministro – por integrar a Suprema Corte, ele tem foro privilegiado e só pode ser investigado pela PGR. Os codinomes relacionados às amizades de Marcelo e do pai dele, Emílio Odebrecht, já apareciam nas primeiras mensagens da empreiteira às quais a Polícia Federal teve acesso, ainda na 14ª fase da Lava Jato, deflagrada em junho de 2015. No material, havia referências frequentes a “amigo”, “amigo de meu pai” e “amigo de EO”.

Demorou pouco mais de um ano para que os investigadores colocassem no papel, pela primeira vez, que o “amigo de meu pai” a que Marcelo costumava se referir era Lula – o ex-presidente conhecia Emílioo Odebrecht desde os tempos em que era sindicalista. As mensagens passaram a fazer ainda mais sentido depois. Elas quase sempre tratavam de assuntos relacionados ao petista. Se havia a certeza de que o “amigo de meu pai” era Lula, ainda era um enigma quem seria o tal “amigo do amigo de meu pai”. Sabia-se que, provavelmente, era alguém próximo a Lula. Mas faltavam elementos para cravar o “dono” do codinome e, assim, tentar avançar na apuração. A alternativa que restava era, evidentemente, perguntar ao próprio Marcelo Odebrecht. E assim foi feito.

Há fundadas razões, como se diz no jargão jurídico, para Dias Toffoli ser tratado por Marcelo Odebrecht como “amigo do amigo de meu pai” – amigo de Lula, portanto. O atual presidente do Supremo foi, durante anos a fio, advogado do PT. Com a chegada de Lula ao poder, ascendeu juntamente com os companheiros. Sempre manteve ótima relação com o agora ex-presidente, que está preso em Curitiba.

Em 2003, Dias Toffoli foi escolhido para ser o subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil. Naquele tempo, o ministro era José Dirceu. Toffoli ocupou o posto até julho de 2005. Em 2007, foi nomeado por Lula chefe da Advocacia-Geral da União, um dos cargos mais prestigiosos da máquina federal. Em 2009, deu mais um salto na carreira: Lula o escolheu para uma das onze vagas de ministro do Supremo Tribunal Federal.

Nesta quinta-feira, Crusoé perguntou a Dias Toffoli que tipo de relacionamento ele manteve com os executivos da Odebrecht no período em que chefiava a AGU e, em especial, quando a empreiteira tentava vencer o leilão para a construção das usinas hidrelétricas no rio Madeira. Até a publicação desta edição, porém, o ministro não havia respondido.

Os outros e-mails listados na resposta de Marcelo Odebrecht ao pedido de esclarecimentos feito pela Polícia Federal trazem mais bastidores da intensa negociação travada entre a empreiteira e o governo em torno dos leilões para a construção das usinas na região amazônica – projetos que, na ocasião, eram tratados por Brasília com grande prioridade e que, como a Lava Jato descobriria mais tarde, viraram uma fonte generosa de propinas para a cúpula petista.

Ao explicar uma das mensagens, Marcelo Odebrecht volta a envolver o ex-presidente Lula diretamente nas controversas negociações com a companhia. Ao se referir à decisão da empresa de abrir mão de um contrato de exclusividade com seus fornecedores no processo de licitação da usina de Santo Antônio, Marcelo afirma que a medida foi adotada a partir de uma conversa privada entre Lula e Emílio Odebrecht.

Diz ele: “Esta negociação foi feita entre Emílio Odebrecht e o presidente Lula (‘amigo de meu pai’) que prometeu compensar a Odebrecht em dobro (de alguma forma que só Emílio Odebrecht pode explicar)”. Também há menção a Dilma Rousseff, tratada em um dos e-mails como “Madame”. A então, ministra da Casa Civil de Lula era vista, àquela altura, como um empecilho aos projetos da Odebrecht na área de energia na região norte do país. As mensagens trazem, ainda, referências aos pedidos de propina relacionados aos leilões, que chegavam por intermédio de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT.

Com as respostas do empreiteiro-delator, a Lava Jato deverá dar mais um passo nas investigações sobre os leilões das hidrelétricas. Uma das frentes de apuração, que mira a construção da usina de Belo Monte, já está avançada. Quanto à menção de Marcelo Odebrecht a Dias Toffoli, não se sabe, até aqui, se a Procuradoria-Geral da República pedirá algum tipo de esclarecimento ao ministro antes de decidir o que fazer. Como advogado-geral da União, Toffoli tinha a atribuição de lidar com o tema. Até por isso, não é possível, apenas com base na menção a ele, dizer se havia algo de ilegal na relação com a empreiteira. Mas explicações, vale dizer, são sempre bem-vindas.

25 comments
  1. O que esses indicados aos cargos do STF estão pensando?
    Vamos investigar sim, e penalizar esse cidadão que acha que está acima da constituição imputar a ele aviso de autoridade, ele pensa ou acha que é o dono do mundo.
    A lei deve ser pra todos, sem distinção ou ele não sabe disso…..a desculpem ele não sabe , foi indicado não é juiz de carreira. Por essas razões devemos acabar com essas indicações.

  2. Mordaça não, o que esses indicados aos cargos do STF estão pensando?
    Vamos investigar sim, e penalizar esse cidadão que acha que está acima da constituição imputar a ele aviso de autoridade, ele pensa ou acha que é o dono do mundo.
    A lei deve ser pra todos, sem distinção ou ele não sabe disso…..a desculpem ele não sabe , foi indicado não é juiz de carreira. Por essas razões devemos acabar com essas indicações.

  3. Ainda tenho orgulho de ser brasileiro, embora esteja envolto por um mar de lama em que nossos políticos, empresários e juízes da Suprema Corte atiraram a todos nós brasileiros. Acredito em nosso presidente e acredito em suas boas intenções patrióticas. Apesar de estar sendo massacrado pela imprensa, devido a seus comentários pouco intempestivos, ele está agindo de boa fé. Está cumprindo com seus discursos de candidato, apesar de estar sendo bloqueado pelo congresso nacional.
    Quanto à matéria da Revista Crusoé, me parece lícita e verdadeira e a suspensão da circulação pelo STF mostra claramente uma abominável conduta dos juízes que lá estão.

  4. Acredito em Deus e, oro para que, Ele dê sabedoria aos nossos representantes no governo, de desvendar tudo o q está acontecendo em segredo por esses q se colocam como justiça (STF) e demais corruptos q ainda não foram desvendados. Assim, dando esperança de um país q tanto almejamos!!!
    Aonde os brasileiros, venham, assim como os norte americanos a, ter orgulho de serem brasileiros!!!
    E, quero ver um dia, bandeiras brasileiras, serem asteadas em frente às casas, comumente e não apenas em período de jogos ou protestos!!!
    Abraço Brasil!!!🇧🇷🇧🇷🇧🇷

  5. Caro amigo essa investigação só está avançando devido ao governo atual não interferir ele nomeou só gente competente para ficar a frente da alta cúpula da polícia federal ou você acha que se fosse alguém DO PT ,PMDB ou PSDB essa investigação tinha chegado até onde chegou fica esperto ele não tem que falar nada nao e muito menos interferir em algo comi presidente do resta observa e dar total autonomia a PF o que está acontecendo no governo dele .

  6. Como diz o velho ditado: “Quem não deve não teme” … se não fez nada de errado, explique o relacionamento com a Odebrecht. E pra ser sincero mesmo, se eu fosse o ex-diretor Adriano Maia, estaria muuuuuito preocupado. Que Deus nos ajude.

  7. O STF dando tiro no próprio pé !! Tentando burlar a Constituição quando deveria defendê-la !! Que vergonha, que acinte !!!

  8. Raça de víboras Deus v o oculto sabia ministros . Tudo o que se faz aqui aqui tem troco

  9. Estamos vivendo um uma ditadura imposta pelo STF e pelos partidos de esquerdas.
    Isso tem que ir para a mídia, tem que ser bem explicado.
    Não podem esconder a verdade, quem deve tem que pagar!
    Um fica acobertando o outro, vergonhoso!

    1. “…ditadura imposta pelo STF e pelos partidos de esquerdas…”
      Dá para explicar de qual ditadura dos partidos de esquerda vc fala?

    2. Ditadura imposta pelos partidos de esquerda?
      Dá para falar mais a respeito pois, salvo engano meus, esses partidos, ou melhor, o PT, tem sido selvagemente perseguido pela direita

  10. Esses canalhas do STF se acham.donos do país e acima das leis e do povo brasileiro. VAO CAIR!!!

  11. Vergonhoso mau exemplo esse supremo já deveriam ter tomado uma providência …tbm esse presidente não fala nada tá c medo tbm?ou rabao tá preso aí tbm….acorda Brasil.. .eles só legislam em benefício próprio.. .tamos de olho…

    1. Caro amigo essa investigação só está avançando devido ao governo atual não interferir ele nomeou só gente competente para ficar a frente da alta cúpula da polícia federal ou você acha que se fosse alguém DO PT ,PMDB ou PSDB essa investigação tinha chegado até onde chegou fica esperto ele não tem que falar nada nao e muito menos interferir em algo comi presidente do resta observa e dar total autonomia a PF o que está acontecendo no governo dele .

  12. Pois é “…explicações, vale dizer, são sempre bem-vindas.” Em vez disso “Deus” Toffoli preferiu o silêncio, a censura e a ameaça, agindo com o despotismo típico de esquerdistas no poder.

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